Como 7 mil pessoas e empresas estão a mudar o sistema financeiro em Portugal.

2 de Fevereiro de 2015. Nasce nesta data a primeira bolsa de empréstimos para micro e pequenas empresas em Portugal. Passados quase 2 anos e com o contributo de mais de 7 mil investidores e empresas, a plataforma Raize já realizou mais de 240 operações de financiamento num valor total de 4 milhões de euros. Em 2017, a Raize quer ajudar a financiar mais de 20 milhões de euros para as micro e pequenas empresas portuguesas.

Nesta entrevista de final de ano aos fundadores da Raize, falamos da evolução da plataforma ao longo destes últimos 2 anos e das perspetivas para o futuro.


Fundadores da Raize: José Maria Rego, Afonso Eça e António Marques.

Sucintamente, como funciona a bolsa de empréstimos Raize?

A Raize é um mercado onde investidores nacionais podem emprestar diretamente às micro e pequenas empresas portuguesas, em troca de uma remuneração. O mercado funciona um pouco como o website de compras online “eBay”, na medida em que existe uma interação direta entre investidores e empresas, e são os investidores que decidem o que fazer.

Os empréstimos formalizados através da plataforma são de seguida reembolsados pelas empresas em prestações mensais, tipicamente durante um período de 12 a 36 meses. À data, os investidores estão a obter um retorno médio bruto de 6% nos empréstimos realizados.

Em termos regulatórios, toda a atividade de gestão das transferências e recebimentos dos investidores e empresas é assegurada por uma instituição de pagamentos, regulada e supervisionada pelo Banco de Portugal.

Para minimizar o risco e proteger os investidores, a Raize desenvolveu um conjunto de mecanismos de análise e seleção de empresas muito eficazes. Atualmente, a Raize tem uma taxa de aprovação de empresas inferior a 15%, ou seja, apenas 15 em cada 100 empresas que contacta a Raize tem acesso aos investidores. À data de hoje, a taxa de "mal parado" é de 1,3% o que compara extremamente bem com a média do sistema bancário.


O mercado de capitais em Portugal está extremamente fragilizado. Como estão a conseguir dinamizar a comunidade de investidores e empresas?

A Raize tem atualmente mais de 7 mil investidores registados e já financiou mais de 200 empresas a nível nacional. Estes números aumentam todos os dias o que é um ótimo sinal.

Existem alguns fatores que estão a contribuir muito positivamente para a dinamização da comunidade de investidores, a começar pela oportunidade de investir diretamente nas PMEs portuguesas, sem barreiras e com uma boa perspetiva de retorno (atualmente a rondar os 6% brutos). Na Raize, os investidores sabem sempre quem está a receber o seu investimento e isso é muito valorizado.

Para as empresas, trata-se provavelmente da primeira grande experiência de contacto com o “mercado de capitais” e o feedback que estamos a receber é muito positivo: a Raize consegue ser mais rápida, menos burocrática e mais barata que os bancos a aprovar e disponibilizar o financiamento.

O desenvolvimento tecnológico da plataforma também está a ser uma mais-valia. A plataforma Raize utiliza hoje das mais avançadas tecnologias ao nível de base de dados e está disponível em versão web e mobile (iOS e Android). Em termos de infraestrutura e funcionamento diário, os utilizadores têm mostrado um elevado nível de satisfação o que tem contribuído muito para um maior envolvimento entre investidores e empresas.


A plataforma Raize foi desenvolvida utilizando algumas das tecnologias mais avançadas nas áreas da experiência de utilizador, base de dados e infraestrutura. A Raize está disponível em versão web e mobile (iOS e Android).


Se cada um investir 20 euros, podemos construir uma força de mudança. Acreditam mesmo que montantes tão pequenos podem fazer a diferença?

Estamos plenamente convencidos disso. Por exemplo, se amanhã todos os portugueses investirem 20 euros, podemos injetar mais de 100 milhões de euros na economia*. Se repetirmos este exercício todos os meses, estamos a falar de 1,2 mil milhões de euros todos os anos, o que representa cerca de 10% do total de novos empréstimos feitos a PMEs todos os anos. Ou seja, isto tem um peso muito real na economia. A população tem muita força para promover este género de mudanças estruturais, e nós temos constatado muita vontade de mudar.

A propósito de mudanças no sistema financeiro, há cerca de 3 anos, reunimos com um CEO de um grande banco nacional, que nos disse na altura que o mercado dos empréstimos em Portugal jamais iria mudar, que continuaria dependente das mesmas práticas de sempre. Nós não partilhamos essa visão e achamos que o sistema atual tem necessariamente de evoluir. Achamos que o sistema atual é pouco transparente e, sobretudo, pouco claro quanto às responsabilidades de cada um. Isto tem criado imensos problemas aos bancos, investidores, depositantes, e sobretudo aos contribuintes.

"A população tem muita força para promover este género de mudanças estruturais, e nós temos constatado muita vontade de mudar."

Na Raize, as relações são mais simples e claras. Os investidores sabem sempre onde estão a investir e assumem o risco do investimento, assim como o seu retorno (atualmente cerca de 6% brutos). A Raize, por seu lado, sabe que tem de fazer uma boa seleção e acompanhamento das empresas, com o risco de perder a confiança dos investidores e de ficar sem o seu negócio.


Quais os vossos principais objetivos para 2017?

Em 2017, queremos chegar ao maior número de empresas e investidores em todo o país. Há muita gente que ainda não conhece a Raize e queremos mudar isso! Em termos de financiamento, queremos ajudar a investir mais de 20 milhões de euros em novos empréstimos para as boas micro e pequenas empresas nacionais.

"Em 2017 queremos ajudar a investir mais de 20 milhões de euros em novos empréstimos para as boas micro e pequenas empresas nacionais."


O que acham que vai acontecer à banca no futuro? Em que medida o vosso modelo pode ser um exemplo ou uma alternativa para o futuro?

Ainda é difícil prever como vai evoluir o sistema bancário nos próximos 5 a 10 anos. Todos os dias surgem novas tecnologias, novas práticas e novas regras que podem fazer mexer o mercado. Mas parece-nos óbvio que o modelo do financiamento à economia terá de ser revisto, em particular nas economias europeias fortemente dependentes dos bancos.

Mais transparência nas decisões de investimento…

Os bancos têm criado alguns problemas às economias, como os colapsos recentes (e não tão recentes) já demonstraram. Os bancos são um tipo de entidade que, tendo as suas virtudes, têm também vários problemas. Um exemplo desses problemas é a falta de transparência na aprovação e execução de operações de elevado impacto.

Alguém sabia que se estavam a fazer empréstimos para a compra de ações de empresas, dando como garantia essas mesmas ações? Alguém sabia que se estavam a fazer empréstimos de milhões de euros a uma única empresa e com poucas ou nenhumas garantias (e muitas vezes com taxas de juro reduzidas)?

Todas estas operações resultaram em perdas de milhões de euros para os bancos e para os contribuintes, que acabaram a proteger os respetivos credores e depositantes. Num modelo funcional, informação como esta não pode ser desconhecida dos agentes interessados e deve ser disponibilizada livremente aos investidores e depositantes dos bancos.

Mais diversificação no financiamento à economia…

Achamos também que o financiamento à economia vai ser feito no futuro por um conjunto alargado de agentes, incluindo bancos e plataformas como a Raize. No Reino Unido, por exemplo, o financiamento a PMEs por plataformas como a Raize já representava 14% dos novos empréstimos em 2015. O modelo no Reino Unido conta com apoio direto do Governo e do Banco de Fomento britânicos, através de investimento direto em PMEs e incentivos fiscais ao investidor.

Mais segurança para os depositantes…

O modelo bancário do futuro também terá de permitir às pessoas guardarem o seu dinheiro sem risco - ainda que sem qualquer tipo de remuneração. Não apenas os montantes abaixo de 100 mil euros (que já beneficiam de uma garantia explícita dos contribuintes) mas também os montantes acima. Isto leva-nos a crer que vão surgir no futuro mais “bancos sem crédito”, também conhecidos como “bancos cofre”. Isto é, bancos que não emprestam, não correm riscos de investimento e apenas guardam o dinheiro das pessoas (e já existem alguns exemplos no mercado português).

Cálculo: 20 EUR x 5 milhões de agregados familiares em Portugal, de acordo com dados do INE.
Créditos fotográficos: Coleção Edge Art, obra "Jantar Possível", por Nuno Vasa (2003).


Sobre a Raize

A Raize é a primeira bolsa de empréstimos em Portugal, oferecendo uma alternativa de financiamento de baixo custo para micro e pequenas empresas com pelo menos 2 anos de atividade e uma situação financeira e tributária saudável. Através da plataforma Raize, as pessoas emprestam diretamente às empresas, em condições mais favoráveis para ambas as partes.

Para os investidores, a Raize é uma alternativa que permite investir a partir de 20 euros em empréstimos a PMEs portuguesas e obter retornos acima dos 6% (taxa calculada com base na TANB do universo atual de investidores, após perdas potenciais). Não tem custos para investir e é muito simples de usar.

Em Portugal, a Raize conta com mais de 7 mil investidores e já ajudou a financiar cerca de 4 milhões de euros em empréstimos a PMEs. Em 2015, a Raize foi eleita "StartUp do ano" na Economia Digital e considerada uma das 3 empresas mais inovadoras de Portugal.

Todas as operações de pagamentos, transferência e receção de fundos e cobranças são asseguradas pela Raize Serviços de Gestão, S.A., uma instituição de pagamentos autorizada e supervisionada pelo Banco de Portugal com o nº 8711.

Emprestar a micro e pequenas empresas é um investimento de risco que pode resultar na perda do seu capital. Esclareça todas as suas dúvidas antes de investir.