"Os jovens e a tecnologia vão colocar Portugal na frente."

Num especial do Jornal de Negócios, com o mote “O que deve mudar no país – Ideias para pensar a economia e a sociedade”, José Maria Rego, cofundador e CEO da Raize, foi convidado, a par com mais 13 personalidades da economia e da política, a traçar uma análise sobre o futuro do país e o que deve e pode ser alterado. Temas como competitividade, crescimento, talento, empresas e Estado são os mais abordados.

Na sua edição de 30 de dezembro de 2021, o Jornal de Negócios, lançou um especial onde desafia 14 gestores e economistas a fazerem um diagnóstico e a traçarem caminhos de mudança para o país. Para José Maria Rego, os jovens e a tecnologia vão colocar Portugal na frente, perspetivando uma nação tecnológica, próspera, global e sustentável, mas alertando para a necessidade de reduzir impostos para atrair e reter jovens e empresas.

Neste artigo, replicamos na integra a sua perspetiva:

"Os jovens e a tecnologia têm o potencial para transformar Portugal.

A aposta individual que milhares de jovens portugueses estão hoje a fazer no setor das novas tecnologias é uma das melhores garantias que podemos ter para o futuro. Este é um setor que não só está a gerar milhões de euros em investimento direto, como também está a atrair Multinacionais, Startups, Unicórnios e algumas das melhores mentes do mundo para Portugal. Por novas tecnologias entenda-se todas as áreas associadas à digitalização e robotização industrial, ao fintech, ao blockchain, às criptomoeadas, à inteligência artificial, ao machine learning, entre outras áreas de vanguarda. Não falo apenas de programadores, mas de todas as funções e profissões envolvidas de alguma forma com estas tecnologias.

Trata-se de uma revolução silenciosa e imensamente democrática, que está a acontecer um pouco por todo o país, e que está a ser uma autêntica mina de novas oportunidades para os jovens, que estão a aderir em força a esta “mega tendência” de mercado.

A tendência é tão forte e com um potencial de criação de valor tão elevado, que a Portugal basta continuar a criar as condições necessárias para que jovens, empresas e investidores queiram continuar a viver, inovar e investir em Portugal. E é por isso que nunca foi tão fácil a Portugal ambicionar mais para si e para os seus cidadãos.

Capa do Jornal de Negócios, com o especial "O que deve mudar no país - Ideias para pensar a economia e a sociedade."
José Maria Rego, cofundador e CEO da Raize - Especial "O que deve mudar no país - Ideias para pensar a economia e a sociedade."

Reduzir impostos para atrair e reter jovens e empresas.

Fizemos um bom trabalho nos últimos para promover o investimento no setor tecnológico em Portugal. Desde investimento e incentivos públicos à promoção do empreendedorismo, pode dizer-se que a estratégia nacional funcionou. Mas com o sucesso desta estratégia, surgem naturalmente novos desafios. Um desses desafios são os impostos.

São cada vez mais os jovens – muitos deles qualificados e das áreas tecnológicas – que sentem o peso dos impostos nas suas folhas salariais e veem a sua liberdade limitada por falta de autonomia financeira e perspetivas de progressão salarial. Esta falta de liberdade faz com que muitos procurem alternativas de trabalho e de residência noutros países com melhores oportunidades e regimes fiscais mais simpáticos.

Um dos fenómenos que está a potenciar este risco de fuga é a forte procura global por talento tech conjugado com a possibilidade de fazer remote work, que em várias áreas do setor tecnológico já era uma realidade muito antes do Covid. A procura por talento tech está a tornar-se tão feroz que a sua existência (ou não) num país acaba invariavelmente por afetar a decisão de localização de Startups e Multinacionais. Um sítio com muito talento tech é também um local mais propício para serem criadas novas empresas tecnológicas com escala internacional. Tendo consciência disso, são já vários os países que criaram regimes fiscais favoráveis para ajudar a reter e atrair talento.

Um bom exemplo disso é o próprio Estado português que hoje em dia tem vários programas de incentivo fiscal para emigrantes e estrangeiros que pretendam vir trabalhar para Portugal. Sem estes regimes fiscais, dificilmente Portugal conseguiria atrair tanto talento tech como o tem feito nos últimos anos. Sou a favor dos regimes, e dos seus objetivos, mas devíamos aplicar o mesmo raciocínio aos restantes jovens e profissionais que nasceram, cresceram e residem hoje em Portugal. De que vale importarmos talento se continuamos a exportá-lo em grande quantidade?

As boas notícias é que parece que começa a existir um consenso alargado entre os contribuintes portugueses para a necessidade de reduzir impostos. Existe desgaste fiscal em Portugal e os contribuintes querem agora recuperar alguma da autonomia financeira que perderam para o Estado nos últimos anos. Tudo boas notícias para a nossa plataforma de crescimento.

O desafio? O mesmo de sempre. Reduzir impostos significa necessariamente repensar algumas das funções e serviços do Estado.

"São cada vez mais os jovens que sentem o peso dos impostos nas suas folhas salariais e veem a sua liberdade limitada por falta de autonomia financeira e perspetivas de progressão salarial."

Apostar na natalidade para garantir os jovens do futuro.

Os jovens são o sangue novo da economia, capazes de adquirir conhecimento com enorme rapidez e destreza, ao mesmo tempo que se adaptam bem a novas circunstâncias da vida. Apesar da sua relativa falta de experiência, são uma excelente força de trabalho e a mais indicada para tirar partido das novas tecnologias. Sem uma boa base de juventude, Portugal não estaria hoje a acompanhar tão bem as novas tendências tecnológicas.

Em 2020 nasceram em Portugal 84 mil crianças, menos 30 mil do que em 2002. Se tivéssemos mantido o mesmo número de nascimentos, haveria hoje mais 600 mil jovens em Portugal. Sem crianças hoje, não haverá jovens amanhã. E sem jovens amanhã, perderemos a nossa vantagem competitiva.

Por isso, além de reforçar de forma significativa os apoios financeiros e sociais, é fundamental que mães e pais sintam que não têm de escolher entre uma carreira e filhos. Temos de apostar na flexibilidade laboral (sobretudo nos primeiros 12 meses), e numa maior sensibilização cultural e societária, capaz de oferecer a confiança e segurança necessárias a todos os pais que procurem famílias mais numerosas mas não queiram abdicar das suas carreiras."

"A Portugal basta continuar a criar as condições necessárias para que jovens, empresas e investidores queiram continuar a viver, inovar e investir."

Uma nação tecnológica, próspera, global e sustentável.

Esta é a conclusão de José Maria Rego que acredita que podemos ser todos "participantes e beneficiários de um ecossistema económico e societário progressista que vê nascer, forma, retém e atrai algumas das pessoas e empresas que mais valor acrescentado criam a uma escala global" e reforça que "este futuro só depende de nós, e temos tudo para o tornar uma realidade."


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Sobre a Raize

A Raize é uma Fintech portuguesa fundada em 2014 e cotada na Euronext Access. A sua plataforma de financiamento colaborativo viabiliza o investimento em diversas soluções financeiras destinadas a instituições, empresas e particulares. A RAIZE reuniu já mais de 68 mil investidores em financiamentos de um valor global superior a 54 milhões de euros. A RAIZE – Instituição de Pagamentos, S.A. é uma instituição de pagamento regulada pelo Banco de Portugal, a Raizecrowd – Serviços de Informação e Tecnologia, Lda é uma entidade gestora de financiamento colaborativo regulada pela CMVM e a Insuraize, Sociedade Unipessoal, Lda, é um agente de seguros autorizado pela ASF.


*Artigo extraído do especial “O que deve mudar no país”, publicado pelo Jornal de Negócios a 30 de dezembro de 2021.